Os desafios do acesso à universidade pública para estudantes de baixa renda

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O acesso à universidade ainda é um privilégio?

Apesar dos avanços nas políticas públicas, o caminho até o ensino superior continua repleto de obstáculos para estudantes de baixa renda. Uma pesquisa recente publicada pelo jornal O Globo revela que, mesmo com o crescimento das cotas, muitos jovens enfrentam barreiras que vão além da seleção acadêmica. A falta de recursos para transporte, alimentação e moradia torna o sonho universitário um desafio diário. Este artigo mergulha nos dados e nas histórias por trás das estatísticas, buscando compreender como podemos transformar esse cenário.

Políticas de inclusão: avanços e limitações

Nos últimos anos, programas como o Prouni e o Fies foram fundamentais para ampliar o acesso ao ensino superior. No entanto, a redução de bolsas e contratos tem limitado seu alcance. Entre 2017 e 2023, o Prouni perdeu cerca de 34% das bolsas oferecidas, enquanto o Fies teve uma queda de 97% nos contratos. Embora o Fies Social tenha surgido como alternativa, com 56 mil vagas 100% financiadas para pessoas de baixa renda, ainda é insuficiente diante da demanda crescente. Assim, embora haja progresso, ele não tem sido suficiente para garantir a permanência dos estudantes mais vulneráveis.

O peso da desigualdade educacional

A defasagem na educação básica é outro fator que compromete o desempenho dos alunos de baixa renda. Muitos chegam ao ensino médio com lacunas significativas em disciplinas essenciais, o que se reflete nas notas do Enem. Segundo o estudo, alunos da rede estadual com pais de baixa escolaridade têm média inferior a 500 pontos, enquanto estudantes de escolas particulares superam os 600 pontos. Essa disparidade revela que o problema começa muito antes do vestibular. Portanto, investir na qualidade da educação básica é essencial para garantir equidade no acesso à universidade.

Trabalhar ou estudar: o dilema cotidiano

Além das dificuldades acadêmicas, muitos jovens precisam trabalhar para ajudar suas famílias. Essa dupla jornada compromete o tempo de estudo e aumenta o risco de evasão. A pesquisa mostra que, mesmo após ingressar na universidade, o desafio da permanência é enorme. Sem apoio financeiro contínuo, muitos abandonam os cursos. A falta de políticas públicas eficazes de permanência, como auxílio moradia e alimentação, agrava ainda mais essa situação. Assim, o acesso não pode ser visto como um ponto final, mas como o início de uma trajetória que precisa de suporte constante.

O mito da universidade pública como espaço dos pobres

É comum ouvir que os ricos estudam nas universidades privadas e os pobres nas públicas. No entanto, os dados mostram o contrário. A renda média per capita dos universitários na rede privada é de R$ 1.513, superior aos R$ 1.386 da rede pública. Isso indica que, mesmo nas universidades públicas, o perfil socioeconômico dos estudantes ainda é elitizado. A democratização do ensino superior exige mais do que cotas: requer uma revisão profunda das estruturas que perpetuam desigualdades, desde o acesso até a conclusão do curso.

Representatividade e retorno social

Apesar das dificuldades, houve avanços importantes. O percentual de universitários que se autodeclaram pretos ou pardos cresceu de 18% para 42% entre 1998 e 2014. Contudo, essa representatividade ainda se concentra em cursos com menor retorno financeiro, como Letras. Em áreas como Medicina, a presença de estudantes negros é de apenas 35%. Isso mostra que, além de garantir o acesso, é preciso ampliar oportunidades em cursos de alta empregabilidade. A inclusão deve ser plena, alcançando todas as áreas do conhecimento.

Caminhos para uma transformação real

Para mudar esse cenário, é necessário um esforço coletivo. Governos, universidades e sociedade civil devem atuar juntos para garantir que o acesso à universidade seja um direito, não um privilégio. Investir em educação básica, ampliar políticas de permanência e fortalecer programas de financiamento são passos fundamentais. Além disso, é preciso combater o preconceito e valorizar a diversidade dentro das instituições. Afinal, uma universidade verdadeiramente democrática é aquela que reflete a pluralidade do país.

Os desafios do acesso à universidade pública para estudantes de baixa renda. Fonte original: O Globo – Chance de um aluno mais pobre entrar numa universidade pública é de apenas 2%

Victor Julião

Sistemas de Informação | Empreendedor Digital | Ativista pela Inclusão Tecnológica | Entusiasta de Esportes de Combate, Cultura e Inovações, Responsável técnico